terça-feira, 29 de janeiro de 2008

cintilo

me diz o que é o mundo
se não tenho nem um segundo
pra tentar compreendê-lo
quanto mais abraçá-lo

me diz o que é o amor
se tenho todo tempo do mundo
e sem conseguir compreendê-lo
talvez consiga sentí-lo
por quiçá um segundo

sábado, 26 de janeiro de 2008

o que eu nunca deixei de ser

enquanto tu aguardas
o futuro que está sempre por vir
eu sigo tentando me corrigir
querendo me tornar
o que eu nunca deixei de ser

culpa

quando um dia ensolarado termina em poesia
no pecado da noite não existe mais culpa

e teus lábios me chamam
e tuas curvas me cegam
e teu cheiro me acorda
e nos teus braços descanso
pra outro dia de sol

mesmos

cansei de ver as mesmas estrelas 
porque mais cedo não muda a estação?

cansei de ver as mesmas flores
porque não descolorem e caem no chão?

será que vou cansar dos mesmos olhos
assim que me olharem com a mesma paixão?

será que vou conseguir andar com os mesmos pés
que só há pouco voltaram a tocar o chão?

lábios salgados

final da tarde
parece que tudo demora
quando passo correndo
sem lembrar de quem sou
triste o dia vai embora

depois sou a fraqueza
de sustentar o olhar sadio
e com os lábios salgados
lembro do futuro que tinha

era teu olhar, meu luar
sensação de ter que eu perdia
e não via

palavras

palavras são armas nos lábios munidos
palavras afagam ouvidos
palavras destroem todos os sentidos
palavras ditas apagam o que foi escrito
palavras escritas relatam o que não foi dito

palavras algemas
palavras mentiras
palavras imprevisíveis
palavras intransponíveis
palavras se tornam verdades indiscutíveis

palavras guardadas na mente
revelam o desejo inconsequente
ilustram mais que imagem
distorcem mais que miragem

e pouco me importa
se são garranchos se lidas
ou trêmulas se ouvidas

o que vale no fundo
é ecoar em sussuro
e soar poesia
uma vez quando entregues
a teus ouvidos atentos
pra virar sinfonia

turvo

turvo dia

a leve nuvem lava

e leva

o céu pra noite


noite limpa

estrela brilha e chama

a chama

do sol pro dia

turvo?

cala-te

deixa meu lamento soar
em uníssono com teu silêncio

só porque tu se gabas de não ter sucumbido às normalidades da vida
não tens o direito de martelar em minha mente que fracassei

dá-me uma chance
permita-me entranhar no ventre deste mundo já em chamas
tenho apenas duas pedras nas mãos
mas carrego no peito a paixão mais quente do mundo

deixa-me tentar
ao menos tu verás do que sou feito